O governo decidiu romper o acordo automotivo mantido com o México,
por ordem da presidente Dilma Rousseff, que está incomodada com o
déficit crescente no comércio de automóveis entre os dois países. A
decisão, mais uma de uma série de medidas protecionistas tomadas sem
consulta prévia ao Itamaraty, segundo admitem seus autores, deve ser
oficializada nos próximos dias, com a volta ao Brasil da presidente e
dos ministros do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e das Relações
Exteriores, Antônio Patriota.
O acordo automotivo, firmado em 2002, prevê a possibilidade de
"denúncia" (anulação), desde que haja comunicação com 14 meses de
antecedência. Esse prazo deve ser respeitado, o que significa que só em
2013 os automóveis, partes e peças comprados naquele país passarão a
pagar tarifa de importação.
Desde 2009, o que era um saldo positivo para o Brasil no comércio de
automóveis entre os dois países tornou-se negativo. No ano passado, com
a vantagem de custos pendendo para os mexicanos e o anúncio de
possíveis restrições às importações no Brasil, montadoras estabelecidas
no país começaram a mudar de fornecedor. Passaram a trazer do México
carros antes importados de outros países, como a Fiat, que começou a
importar da filial mexicana veículos antes comprados da Polônia.
As importações de automóveis feitos no México aumentaram quase 40%
no ano passado, para mais de US$ 2 bilhões, o que, descontadas as
exportações àquele país, de quase US$ 372 milhões, resultaram em
déficit pouco inferior a US$ 1,7 bilhão. Foi um salto de 162% em
relação ao déficit de US$ 642 milhões de 2010. Como reflexo da perda de
competitividade dos veículos brasileiros em relação aos mexicanos, as
exportações brasileiras para o país caíram quase 40%, de mais de US$
600 milhões em 2010 para menos de US$ 400 milhões no ano passado.
O tema fez parte da agenda do ministro das Relações Exteriores,
Antônio Patriota, com autoridades mexicanas, durante o Fórum Econômico
Mundial, em Davos. Os mexicanos, irritados, já comunicaram à equipe
econômica que até aceitam uma pequena revisão nos termos do acordo, mas
a decisão de simplesmente cancelá-lo está tomada. Integrantes da equipe
econômica argumentam que o acordo favorece o México em detrimento dos
sócios no Mercosul: enquanto automóveis vindos de fábricas mexicanas
têm de ter 35% de conteúdo local, os do Mercosul precisam ter 45%.