O Brasil
vem discutindo o desequilíbrio da balança comercial com a Argentina
desde o começo do mês, quando o país vizinho definiu a necessidade de
autorização prévia para importações. Paulo Skaf, presidente da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirmou ontem
no final da reunião com o embaixador da Argentina no Brasil, Luis Maria
Kreckler, que o ponto chave para a questão é o Brasil comprar mais da
Argentina.
Na
mesma ocasião o embaixador argentino disse que é primordial a
diminuição do déficit da Argentina, mas não arriscou prever metas. No
último ano o déficit da Argentina com o Brasil foi de US$ 5,8 bilhões .
Para
o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior
(Abece), Ivan Ramalho, "o superávit [brasileiro] foi muito grande e o
Brasil de fato tem que fazer um esforço para comprar, nunca um esforço
de vender menos, para evitar que exista um desequilíbrio tão grande. A
Argentina já tem uma indústria debilitada, o melhor caminho é reduzir
um pouco esse desequilíbrio porque ele prejudica a corrente de
comércio, é preciso que cresçam as importações e as exportações".
O
presidente da Fiesp liderou, no começo do mês, uma visita de
empresários brasileiros com autoridades argentinas para discutir as
possíveis dificuldades que os exportadores brasileiros teriam de
comercializar com o país devido ao procedimento de solicitação da
declaração jurada de exportações. O encontro de ontem com Krecler,
segundo Skaf, é uma continuação dos acertos .
Ele
afirmou que a conclusão da reunião de ontem revelou que "é bom que o
Brasil venda para a Argentina e é bom que a Argentina compre do Brasil,
porém o Brasil precisa comprar mais da Argentina, não há nada de ruim
em vender bastante para a Argentina porque se a Argentina está
comprando é porque precisa. Se não comprar do Brasil comprará de
terceiros [outros] países".
Um
dos produtos que o Brasil poderia comprar da Argentina, segundo o
presidente são navios. Ele afirmou que a Petrobras necessita adquirir
diversos navios e os estaleiros na Argentina estão ociosos. "É hora de
abrir as portas para que os estaleiros argentinos possam vender navios
para o Brasil sem prejuízo nenhum da indústria brasileira, pelo
contrário, acaba sendo mais uma opção para a Petrobras ou para a
marinha."
Uma
outra estratégia proposta pela Fiesp é que os dois países privilegiem a
compra de produtos dentro do Mercosul, para prestigiar o bloco. Ele
citou a China como um parceiro de comércio comum que poderia ser
substituído por relação bilateral.
O
presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex),
Roberto Segatto, concorda com a estratégia da Fiesp. "Eu acho que pode
deixar de importar mais dos países asiáticos, assim como a Argentina
deve importar mais de outros países da região. Se não para que vale o
Mercosul? Eu acho que essa negociação com a Fiesp vai dar certo, eles
são profissionais que entendem do problema". Um dos setores citados por
Segatto é o automobilístico. Segundo ele, o Brasil poderia importar
menos carros do continente asiático e privilegiar a produção argentina.
Para
Ramalho, a estratégia de aumento na exportação para a o parceiro do
Mercosul vai ajudar a indústria brasileira vender mais e comenta que
"além do Brasil ter um superávit, a qualidade da pauta é favorável
porque são produtos industrializados, de maior valor agregado",
completou.
"Nós
não estamos fazendo nada de forma isolada, vamos tentar colaborar com
os nossos governos, governo brasileiro e argentino no sentido de que as
coisas caminhem de uma forma que beneficie a sociedade brasileira e a
sociedade argentina. Nós temos que estar com a Argentina como parceiro
e vizinho no sentido de ampliar também e fortalecer as nossas
indústrias seja argentina, seja brasileira", ressaltou o presidente da
Fiesp ao final do encontro com jornalistas.
O
embaixador acredita que "existe uma sinergia entre os governos da
Argentina, do Brasil e entre as cúpulas empresariais do Brasil e da
Argentina. A gente está fazendo um trabalho conjunto".
Atrasos
Ao
ser questionado sobre possíveis atrasos nas exportações de mercadorias
brasileiras para a o país vizinho, devido ao novo procedimento de
liberação das importações argentinas, o presidente da Fiesp afirmou que
recebeu, durante sua visita à Argentina, um voto de confiança dos
representantes do governo argentino de que esta medida não tem intuito
de prejudicar o comércio entre os países.
Além
disso, Skaf disse que foi firmado um compromisso entre os governos de
um prazo de quinze dias entre a entrega da declaração e a autorização
argentina para o comércio. Ele não soube afirmar se já há atrasos,
disse que só será possível uma avaliação no final deste mês já que a
mudança ainda é recente.
O
embaixador reiterou que "essa não é uma medida dirigida ao Brasil, é
uma ação de melhor supervisão das importações de todo o mundo"