Com uma
costa de mais de 7,3 mil quilômetros de extensão, o Brasil começa a se
firmar como um grande mercado para barcos. O aumento do poder
aquisitivo no País tem levado alguns consumidores a considerar o item
para seu lazer. Algo como o "segundo carro de luxo". Diante desse
cenário, empresas estrangeiras se instalam no Brasil e fazem planos
para tornar o País uma base de exportação para América Latina e até
EUA. Este é o caso da italiana Azimut-Benetti, uma das maiores
fabricantes do mundo no setor, e que está construindo o segundo
estaleiro em solo nacional.
"O
Brasil é um país perfeito para o mercado náutico, com alta capacidade
de consumo", afirmou ao DCI o presidente da Azimut-Benetti do Brasil,
Luca Morando. Mas esse luxo é ainda para poucos, uma vez que um barco
"simples", com 20 pés (medida utilizada no setor), não sai por menos
que R$ 20 mil. Um iate chega a custar mais do que R$ 5 milhões. "Nosso
cliente é sofisticado e sabe que está investindo em um produto de
qualidade", ressalta Morando.
E
essa qualidade tem um preço alto. Um barco Azimut de 43 pés (cerca de
13 metros de comprimento) - considerado um tamanho bastante confortável
- custa em torno de R$ 2,2 milhões. Já um de 60 pés (18 metros de
comprimento) chega a custar R$ 5,2 milhões. O estaleiro da empresa, no
Brasil, fica em Itajaí (SC), terceiro maior polo náutico do País,
perdendo apenas para Rio de Janeiro e São Paulo. E para ampliar a
produção dos atuais 30 barcos por ano para cerca de 100 anuais, a
italiana vai investir R$ 200 milhões no País. "Já fizemos um aporte de
R$ 50 milhões na nossa unidade catarinense e o resto deve ser aplicado
na construção de outra planta também em Itajaí", diz Morando.
O
executivo afirma que, no início das operações da empresa no Brasil, a
produção era feita com componentes importados. Hoje, 30% são nacionais
e esse número deve atingir 90% em cinco anos. "Não é possível atingir
um índice de nacionalização da noite para o dia. Por isso, estamos
trazendo uma rede de fornecedores para compor nosso polo náutico", diz.
E
todo esse esforço não é por acaso. A estratégia da italiana é fabricar,
internamente, o que hoje é importado. Segundo Morando, a Azimut deverá
produzir barcos de 120 pés (cerca de 35 metros), no Brasil. "Em um
primeiro momento, a nossa produção será destinada ao mercado interno.
Depois, nosso estaleiro exportará para América do Sul e Estados
Unidos", destaca.
Morando
explica que a mão de obra é um gargalo que dificulta o crescimento do
mercado náutico brasileiro. "Estamos treinando pessoal pois o segmento
é muito específico e demanda mão de obra especializada", afirma.
Falta
de especialização no mercado é um problema também enfrentado pela
Kalmar Brasil, estaleiro 100% nacional, vizinho à italiana Azimut, de
Itajaí. "Nos apoiamos na marcenaria naval para construir barcos
personalizados, bem diferentes dos industrializados. Mão de obra naval
está em falta", afirma a diretora da Kalmar, Lorena Kreuger.
Em
um setor dominado por grandes empresas, a empresária especializada em
projetos de barcos pelo Westlawn Institute of Marine Technology, dos
EUA, concentra seus esforços em peças únicas, que podem custar até R$ 1
milhão, dependendo do tamanho e das especificações do barco. "Um
projeto pode levar cerca de um ano, mas o cliente participa de cada
processo da construção", explica Kreuger.
Só
que esse acompanhamento tem um preço. A construção minuciosa e
personalizada de um barco médio, de 24 pés, não sai por menos de R$ 270
mil, preço que no mercado pode ser encontrado por R$ 40 mil reais em
uma grande empresa. "O nosso processo envolve acertar os detalhes do
projeto, encomendar as peças e por em prática o que antes era apenas um
objeto de desejo para o cliente", afirma. A empresária destaca que a
Kalmar já tem trabalho para o ano todo.
Segundo
dados da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e Seus
Implementos (Acobar), o mercado interno produziu cerca de 5 mil barcos
em 2011, ante os 4,4 mil do ano anterior. "O setor deve manter esse
índice de crescimento em 2012, mesmo se tratando de um item de lazer",
afirma o presidente da entidade, Eduardo Colunna.