O Brasil perdeu espaço na Argentina para mercadorias de outros países em 22 de 24 setores industriais e agrícolas entre os anos de 2003 e 2010. As vendas de produtos brasileiros se multiplicaram por quatro, mas caíram como proporção do total importado pelo mercado argentino. Ou seja, fornecedores de fora do Mercosul avançaram em território antes dominado por exportadores brasileiros e se tornaram os principais beneficiados pela explosão de consumo que a Argentina viveu no período, com crescimento médio da economia superior a 7% ao ano.
Isso é o que mostra estudo feito, a pedido do Valor, pela consultoria portenha Abeceb. As exportações saltaram de US$ 4,5 bilhões para US$ 18,5 bilhões nos últimos oito anos. Mas dos 24 setores pesquisados, só o de autopeças ampliou participação no mercado, enquanto o de papel manteve a mesma fatia de 2003. Nos demais, houve queda. As maiores reduções foram nos setores de calçados, têxteis e vestuário, materiais de transporte e bens de informática e de tecnologia.
Há uma "combinação de fatores" para explicar esse movimento, diz Roberto Giannetti da Fonseca, diretor da Fiesp. Ele cita a sobrevalorização do real e o novo protagonismo da China como fornecedora de bens manufaturados, inclusive a países emergentes. A postura protecionista dos argentinos, às vezes até hostil aos produtos brasileiros, segundo Gianetti, aumenta ainda mais as perdas.
O ano de 2003 foi tomado como base de comparação por ter sido o primeiro da gestão do ex-presidente Lula, que adotou uma política comercial de tolerância - frequentemente chamada de "paciência estratégica" - com as barreiras argentinas, à exceção do quarto trimestre de 2009, quando decidiu retaliar o vizinho pelo estouro do prazo de 60 dias na liberação de licenças de importação. Na semana passada, o governo voltou a adotar restrições, agora para importações de veículos.