A maior valorização do real em relação ao dólar ampliou a diferença de preço entre os produtos siderúrgicos oferecidos por fabricantes nacionais e os importados. Os setores importadores relatam que produtos como vergalhões, fio-máquina e aços longos chegam ao país, já colocados no mercado nacional, com o custo do frete e impostos já pagos, 40% mais baratos do que os oferecidos pela indústria doméstica.
José Velloso Dias Cardoso, diretor de mercado interno da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), diz que 40% é a diferença de preço quando se compara o aço longo brasileiro com o que vem da Europa. "Com outros países a diferença é maior. O preço do fabricante nacional chega a ser o dobro do aço chinês."
Com a diferença, as atenções se voltam ao fornecedor externo, seja de onde for. "Os grandes fabricantes de máquinas aumentaram a fatia de aço comprado do exterior e a importação só não é maior porque o fornecedor de fora ainda não é tão acessível às pequenas e médias empresas", diz Velloso.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) indicam que não é somente a indústria de máquinas que tem optado mais por fornecedores externos. De janeiro a setembro a importação brasileira de produtos siderúrgicos atingiu US$ 3,95 bilhões, quase o dobro dos US$ 2,06 bilhões desembarcados nos primeiros nove meses de 2009. Os produtos siderúrgicos representam 42,3% das importações totais do setor metalúrgico.
A indústria metalúrgica ainda tem superávit na balança comercial, mas o saldo positivo teve redução significativa este ano. Segundo dados do MDIC, o superávit do setor caiu de US$ 3,66 bilhões de janeiro a setembro de 2009 para US$ 689,7 milhões nos três primeiros trimestres de 2010. O setor metalúrgico foi responsável por 13% do aumento do déficit total da balança comercial da indústria de janeiro a setembro deste ano.
Segundo estimativas do Instituto Aço Brasil (IABr), que reúne fabricantes nacionais de aço, a taxa de penetração dos importados no consumo nacional de produtos siderúrgicos subiu para 20% de janeiro a agosto deste ano. Historicamente o índice varia entre 4% e 6%. Com a maior penetração do aço importado, o IABr tem levantado discussões sobre benefícios fiscais concedidos para a importação. A Secex mantém duas investigações em curso para pedido de medida antidumping. Uma é para prorrogar a aplicação da sobretaxa antidumping já existente para tubo de aço carbono originado da Romênia. O outro pedido é para aplicação do direito antidumping sobre laminados planos de baixo carbono e baixa liga vindos da Coreia do Norte, Coreia do Sul, Espanha, México, Romênia, Rússia, Taiwan e Turquia.
O IABr também chegou a questionar judicialmente a importação de vergalhões e pleiteou à Receita Federal a aplicação de mecanismos de valoração aduaneira para o desembaraço de produtos siderúrgicos. Importadores ouvidos pelo Valor não acreditam, porém, que a valoração atingirá volume considerável das importações. Procurado para comentar a diferença de preços entre os produtos siderúrgicos nacionais e os importados, o IABr não se pronunciou.
Rubson Lopes Nogueira, presidente da Cobraço, distribuidora de aço que representa a fabricante espanhola Celsa, diz que os preços dos produtos siderúrgicos no mercado internacional sempre foram mais atraentes, mas os fornecedores de fora ficaram mais acessíveis somente no cenário pós-crise.
"Quando os Estados Unidos e a Europa cresciam, os produtores de fora não se interessavam muito em vender aço em volumes menores", diz Nogueira. "Mas com a crise foi possível encontrar fornecedores de aço de qualidade que se dispunham a vender para nós e adequar-se às especificações técnicas exigidas pelo Brasil. Eles precisavam de novos mercados para tornar seu negócio viável."
No começo de 2009, conta Nogueira, a Cobraço começou a buscar parceiros para importação de vergalhão e fio-máquina, desembarques que se efetivaram somente este ano. Ele diz que o desembaraço de vergalhão chegou a ser alvo de ação judicial por parte do IABr, que questionou a certificação técnica do material importado. Nogueira não revela o volume de importação, mas diz que as compras do exterior devem continuar no próximo ano, com maior diversificação de produtos siderúrgicos. A Cobraço atualmente importa vergalhão para a construção civil e fio-máquina para pequenas e médias indústrias.
Segundo ele, no início do ano, a diferença de preço entre o produto nacional e o importado da Turquia e da Espanha chegava a 40%. Atualmente, diz, a diferença é menor, perto de 10%. "Não houve reajuste pelos fabricantes nacionais em julho e o preço de mercado caiu no segundo semestre", diz. Mesmo assim, diz, a Cobraço não pretende trocar imediatamente o aço comprado do grupo Celsa pelo fabricado no mercado interno. Para ele, é importante manter o canal das importações. "Se pararmos de importar, o preço do nacional vai voltar a subir."
O preço do aço medido pelo IGP-DI ainda acumula alta de 3,72% de janeiro a outubro deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra, porém, que a partir de junho o aumento de preços perdeu força e desde agosto apresenta variação negativa na ponta. O aço teve deflação de 0,38%, de 2,48% e de 1,51% nos meses de agosto, setembro e outubro, respectivamente.
Dentro do aço, alguns produtos específicos, como o vergalhão, por exemplo, tiveram quedas maiores de preços na ponta, o que faz a variação do ano ficar negativa em 3,18% no acumulado de janeiro a outubro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2009. As bobinas e chapas grossas de aço ou carbono, porém, somam ainda alta de 11,2% no acumulado até outubro, embora tenham tido queda de preço na ponta em setembro e outubro, de 3,08% e de 1,04%, respectivamente.
As variações medidas pelo IGP-DI, explica Quadros, refletem os preços do aço produzido no Brasil. Segundo ele, a redução de preços é resultado da pressão das importações no mercado interno. "Há evidências de que a demanda internacional de aço não está firme, o que resulta em queda de preços no mercado internacional." Essa redução, diz, combinada com o real valorizado em relação ao dólar, facilita as importações.
Também atraída pela redução de preço propiciada pelo câmbio, a Metal Mecânica Maia é um exemplo de como a importação de produtos siderúrgicos também está sendo realizada por empresas do próprio setor metalúrgico. A empresa fabrica tradicionalmente autopeças, além de estampados, aramados e gabinetes diversos.
Em 2009, a indústria, diz o seu diretor-administrativo-financeiro, Daniel Barreto, passou a produzir treliças, telas e vergalhões. Para isso, importou 10 mil toneladas de fio-máquina. Este ano, as importações de produtos siderúrgicos da metalúrgica somaram 35 mil toneladas distribuídas entre fio-máquina e vergalhões. A aposta numa nova linha de produção aconteceu como resultado de "uma convergência de fatores", diz Barreto.
A empresa, diz o diretor, opta por trazer fio-máquina da Turquia em vez de comprar no mercado interno em função da diferença de preço provocada pelo câmbio. No mercado interno, diz ele, a empresa pagaria perto de R$ 2,5 mil por tonelada do produto. A empresa importa por cerca de US$ 650 a tonelada.
Barreto diz que a nova linha demandou investimento. "Para se importar fio-máquina, por exemplo, é preciso comprar 3 mil toneladas para ser viável. Levando em conta o preço, já são US$ 2,1 milhões só para começar a brincadeira." Atualmente, porém, com o câmbio mais favorável, diz, alguns fabricantes têm conseguido compras em volumes menores por meio de tradings e distribuidoras. A importação da Metalúrgica Maia também foi alvo de ação judicial do IABr.
José Velloso Dias Cardoso, diretor de mercado interno da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), diz que 40% é a diferença de preço quando se compara o aço longo brasileiro com o que vem da Europa. "Com outros países a diferença é maior. O preço do fabricante nacional chega a ser o dobro do aço chinês."
Com a diferença, as atenções se voltam ao fornecedor externo, seja de onde for. "Os grandes fabricantes de máquinas aumentaram a fatia de aço comprado do exterior e a importação só não é maior porque o fornecedor de fora ainda não é tão acessível às pequenas e médias empresas", diz Velloso.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) indicam que não é somente a indústria de máquinas que tem optado mais por fornecedores externos. De janeiro a setembro a importação brasileira de produtos siderúrgicos atingiu US$ 3,95 bilhões, quase o dobro dos US$ 2,06 bilhões desembarcados nos primeiros nove meses de 2009. Os produtos siderúrgicos representam 42,3% das importações totais do setor metalúrgico.
A indústria metalúrgica ainda tem superávit na balança comercial, mas o saldo positivo teve redução significativa este ano. Segundo dados do MDIC, o superávit do setor caiu de US$ 3,66 bilhões de janeiro a setembro de 2009 para US$ 689,7 milhões nos três primeiros trimestres de 2010. O setor metalúrgico foi responsável por 13% do aumento do déficit total da balança comercial da indústria de janeiro a setembro deste ano.
Segundo estimativas do Instituto Aço Brasil (IABr), que reúne fabricantes nacionais de aço, a taxa de penetração dos importados no consumo nacional de produtos siderúrgicos subiu para 20% de janeiro a agosto deste ano. Historicamente o índice varia entre 4% e 6%. Com a maior penetração do aço importado, o IABr tem levantado discussões sobre benefícios fiscais concedidos para a importação. A Secex mantém duas investigações em curso para pedido de medida antidumping. Uma é para prorrogar a aplicação da sobretaxa antidumping já existente para tubo de aço carbono originado da Romênia. O outro pedido é para aplicação do direito antidumping sobre laminados planos de baixo carbono e baixa liga vindos da Coreia do Norte, Coreia do Sul, Espanha, México, Romênia, Rússia, Taiwan e Turquia.
O IABr também chegou a questionar judicialmente a importação de vergalhões e pleiteou à Receita Federal a aplicação de mecanismos de valoração aduaneira para o desembaraço de produtos siderúrgicos. Importadores ouvidos pelo Valor não acreditam, porém, que a valoração atingirá volume considerável das importações. Procurado para comentar a diferença de preços entre os produtos siderúrgicos nacionais e os importados, o IABr não se pronunciou.
Rubson Lopes Nogueira, presidente da Cobraço, distribuidora de aço que representa a fabricante espanhola Celsa, diz que os preços dos produtos siderúrgicos no mercado internacional sempre foram mais atraentes, mas os fornecedores de fora ficaram mais acessíveis somente no cenário pós-crise.
"Quando os Estados Unidos e a Europa cresciam, os produtores de fora não se interessavam muito em vender aço em volumes menores", diz Nogueira. "Mas com a crise foi possível encontrar fornecedores de aço de qualidade que se dispunham a vender para nós e adequar-se às especificações técnicas exigidas pelo Brasil. Eles precisavam de novos mercados para tornar seu negócio viável."
No começo de 2009, conta Nogueira, a Cobraço começou a buscar parceiros para importação de vergalhão e fio-máquina, desembarques que se efetivaram somente este ano. Ele diz que o desembaraço de vergalhão chegou a ser alvo de ação judicial por parte do IABr, que questionou a certificação técnica do material importado. Nogueira não revela o volume de importação, mas diz que as compras do exterior devem continuar no próximo ano, com maior diversificação de produtos siderúrgicos. A Cobraço atualmente importa vergalhão para a construção civil e fio-máquina para pequenas e médias indústrias.
Segundo ele, no início do ano, a diferença de preço entre o produto nacional e o importado da Turquia e da Espanha chegava a 40%. Atualmente, diz, a diferença é menor, perto de 10%. "Não houve reajuste pelos fabricantes nacionais em julho e o preço de mercado caiu no segundo semestre", diz. Mesmo assim, diz, a Cobraço não pretende trocar imediatamente o aço comprado do grupo Celsa pelo fabricado no mercado interno. Para ele, é importante manter o canal das importações. "Se pararmos de importar, o preço do nacional vai voltar a subir."
O preço do aço medido pelo IGP-DI ainda acumula alta de 3,72% de janeiro a outubro deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra, porém, que a partir de junho o aumento de preços perdeu força e desde agosto apresenta variação negativa na ponta. O aço teve deflação de 0,38%, de 2,48% e de 1,51% nos meses de agosto, setembro e outubro, respectivamente.
Dentro do aço, alguns produtos específicos, como o vergalhão, por exemplo, tiveram quedas maiores de preços na ponta, o que faz a variação do ano ficar negativa em 3,18% no acumulado de janeiro a outubro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2009. As bobinas e chapas grossas de aço ou carbono, porém, somam ainda alta de 11,2% no acumulado até outubro, embora tenham tido queda de preço na ponta em setembro e outubro, de 3,08% e de 1,04%, respectivamente.
As variações medidas pelo IGP-DI, explica Quadros, refletem os preços do aço produzido no Brasil. Segundo ele, a redução de preços é resultado da pressão das importações no mercado interno. "Há evidências de que a demanda internacional de aço não está firme, o que resulta em queda de preços no mercado internacional." Essa redução, diz, combinada com o real valorizado em relação ao dólar, facilita as importações.
Também atraída pela redução de preço propiciada pelo câmbio, a Metal Mecânica Maia é um exemplo de como a importação de produtos siderúrgicos também está sendo realizada por empresas do próprio setor metalúrgico. A empresa fabrica tradicionalmente autopeças, além de estampados, aramados e gabinetes diversos.
Em 2009, a indústria, diz o seu diretor-administrativo-financeiro, Daniel Barreto, passou a produzir treliças, telas e vergalhões. Para isso, importou 10 mil toneladas de fio-máquina. Este ano, as importações de produtos siderúrgicos da metalúrgica somaram 35 mil toneladas distribuídas entre fio-máquina e vergalhões. A aposta numa nova linha de produção aconteceu como resultado de "uma convergência de fatores", diz Barreto.
A empresa, diz o diretor, opta por trazer fio-máquina da Turquia em vez de comprar no mercado interno em função da diferença de preço provocada pelo câmbio. No mercado interno, diz ele, a empresa pagaria perto de R$ 2,5 mil por tonelada do produto. A empresa importa por cerca de US$ 650 a tonelada.
Barreto diz que a nova linha demandou investimento. "Para se importar fio-máquina, por exemplo, é preciso comprar 3 mil toneladas para ser viável. Levando em conta o preço, já são US$ 2,1 milhões só para começar a brincadeira." Atualmente, porém, com o câmbio mais favorável, diz, alguns fabricantes têm conseguido compras em volumes menores por meio de tradings e distribuidoras. A importação da Metalúrgica Maia também foi alvo de ação judicial do IABr.