A lista de preocupações e pedidos levados ontem à presidente Dilma
Rousseff, por 28 empresários que formam a elite do PIB nacional, vai da
"guerra dos portos" à desoneração da folha salarial, passando por
assuntos como licenciamento ambiental e agilização de vistos para
profissionais estrangeiros com alta qualificação. A reunião durou pouco
mais de três horas e foi avaliada como "excelente" por Dilma, que
prometeu repetir a experiência pelo menos duas vezes por semestre.
A presidente abriu o encontro falando, por cerca de 40 minutos,
sobre a conjuntura internacional - principalmente na Europa e na China.
Garantiu que o governo "tomará atitudes" para defender a indústria
brasileira e citou, como exemplo de sucesso, a recuperação do setor
automotivo promovida pelos Estados Unidos. "Não estamos pensando em
protecionismo, em fechar as portas do país, mas em defesa comercial",
disse Dilma.
Em seguida, ela passou a palavra aos ministros Guido Mantega
(Fazenda) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento), além do presidente do
BNDES, Luciano Coutinho, que falaram por cinco minutos cada. Não houve
menção às dificuldades, nas últimas semanas, enfrentadas pelo governo
no Congresso. Diante das exposições, os empresários deixaram o Palácio
do Planalto convencidos de que medidas de desoneração e defesa
comercial vão sair após a volta de Dilma da visita oficial que fará à
Índia, na próxima semana, para participar do encontro de cúpula dos
Brics.
Ao abrir o microfone para a iniciativa privada, a presidente pediu
que os empresários falassem sobre suas preocupações, sem limite de
tempo. A resolução 72 do Senado, que tenta dar um fim à guerra dos
portos deflagrada por Estados que reduzem suas alíquotas de ICMS para a
entrada de produtos importados, foi um dos temas logo mencionados.
O presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, afirmou que "o governo
pode contar conosco na luta pela aprovação da resolução 72", em
referência ao projeto que tramita no Senado para uniformizar em 4% a
alíquota do ICMS interestadual para bens e mercadorias importadas. Ele
falou logo depois de Dilma ressaltar que esse assunto é prioritário em
sua agenda legislativa, e que teria efeitos imediatos na produção
nacional. Houve até quem cobrasse, obviamente em tom de brincadeira,
que o Palácio do Planalto deveria providenciar ônibus para levá-los ao
Congresso.
Demonstrando interesse em cada manifestação, Dilma "ouviu todo mundo
e anotou muito", segundo relato de Luiza Trajano, do Magazine Luiza.
Trajano disse que as vendas de geladeiras, fogões e máquinas de lavar
cresceram 25% após a redução de IPI para eletrodomésticos de linha
branca, sugerindo que seria uma boa ideia prorrogar a medida, inclusive
como política de inclusão social. "De 40% a 50% das casas não têm
máquina de lavar", disse a empresária, à saída da reunião.
"Foi uma conversa aberta, muito boa, uma troca de visões sobre a
economia brasileira e internacional", comentou o presidente da Embraer,
Frederico Curado. "A discussão ficou em torno de como manter a
competitividade brasileira e como manter os investimentos futuros. Ela
disse que podemos contar com o governo", afirmou Joesley Batista, um
dos donos do Grupo JBS.
Eike Batista (Grupo EBX) reivindicou à presidente que autorize a 11ª
rodada da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para a exploração de novos
blocos de petróleo e gás. O Conselho Nacional de Política Energética
(CNPE) deu sinal verde à rodada em abril do ano passado, mas ainda
falta uma autorização de Dilma, por meio de decreto.
Eike e Otávio Azevedo (Andrade Gutierrez) postularam mais agilidade
do governo na liberação de vistos de trabalho para especialistas
estrangeiros altamente qualificados. Murilo Ferreira (Vale) reclamou da
lentidão no licenciamento ambiental. Ivo Rosset (Valisère) pediu a
redução dos encargos trabalhistas e fez comparações sobre o custo da
folha de pagamento, no setor têxtil, no Brasil e em outros países.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson
Andrade, pediu a Dilma que não ceda à pressão dos sindicatos por
diminuição da jornada de trabalho para 40 horas semanais. Segundo ele,
isso "vai na contramão" da necessidade de ganhos de competitividade.
"Enquanto aqui fala-se em mudar para 40 horas, na Europa e em outros
países estão aumentando para 44 ou até 48 horas", disse.
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, reiterou o apoio ao fim da guerra
dos portos e demandou a relicitação das concessões de energia que
vencem a partir de 2015. Ele também sugeriu o aumento da alíquota do
Reintegra, mecanismo que compensa as empresas com uma parte do valor
das exportações de manufaturados, dos atuais 3% para até 10%. "O PIB
brasileiro não cresce mais de 3% em nenhum ano se a indústria
brasileira não crescer."