As barreiras impostas pela Argentina para importações estão cumprindo
seu papel: o país teve em fevereiro o maior superávit mensal desde
maio, atingindo US$ 1,341 bilhão de saldo. O resultado foi obtido
graças à retração das importações, que somaram apenas US$ 4,757
bilhões, o menor resultado dos últimos 14 meses. As exportações foram
de US$ 6,1 bilhões, ligeiramente acima dos US$ 5,9 bilhões registrados
no mês passado, mas abaixo dos US$ 6,3 bilhões vendidos em dezembro.
Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a Argentina reduziu as
importações em 1%, sendo que, nos últimos 12 meses, a economia se
expandiu muito: 9% de acordo com os dados oficiais, que tomam como base
um índice de preços questionado pelos agentes privados, ou 7% segundo
diversos consultorias de economia.
O
resultado enfraquece a explicação dada pelo presidente da União
Industrial Argentina (UIA), José Ignacio de Mendiguren, ao comentar o
resultado. "A redução das importações na Argentina sempre esteve
vinculada ao nível de atividade da economia e, desde novembro, estamos
vivendo uma desaceleração", comentou o dirigente, logo após encontro
com o presidente da brasileira Confederação Nacional da Indústria
(CNI), Robson Braga de Andrade. Mendiguren e Braga se reuniram para
elaborar a pauta do encontro de um fórum de 20 empresários com os
chanceleres do Brasil e da Argentina, que deve ocorrer em maio.
O dirigente brasileiro admitiu que, no caso brasileiro, houve uma
redução de 22% nas vendas do país para a Argentina em fevereiro,
segundo uma pesquisa preliminar entre os exportadores, e atribuiu
diretamente o resultado às barreiras que entraram em vigor em 1º de
fevereiro. Nesse dia, o governo argentino começou a exigir uma
declaração jurada de todos os importadores, e as operações passaram a
depender de um aval dos órgãos do governo. Na prática, isso foi
equivalente a estender o regime de licenças não automáticas a toda a
economia. Até a entrada em vigor da medida, o ritmo das compras
argentinos era outro: em janeiro, as importações foram 10% superior às
registradas no mesmo mês do ano anterior.
Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (Indec), as maiores
reduções de importação com base no mesmo mês de 2011 foram de telefones
celulares, aviões, caminhões, tubos soldados para oleodutos e
gasodutos, minério de ferro, açúcar, carne suína, geladeiras e máquinas
de fotografia digital. Houve aumento de importações para o setor
automotivo e de circuitos de componentes elétricos.
De longe o comércio mais atingido foi com o Mercosul, no qual a
relação bilateral com o Brasil é a mais relevante. Segundo o relatório
do governo argentino, no último mês houve uma queda de importações do
Mercosul de 16%, em relação ao mesmo mês do ano anterior, muito acima
do registrado com os outros grandes blocos. No comércio com os países
do Nafta (EUA, México e Canadá), houve uma queda de importações de 8%.
Com os países da Ásia as compras subiram 9%, e com a União Europeia as
importações se elevaram 19%, graças a compras de alto valor agregado,
como estações de celulares da Finlândia, por exemplo.
Em relação às exportações, o maior desaquecimento também se deu com
o Mercosul, onde houve uma retração de 4%. Com o Nafta, a redução foi
de 3%. Já em relação à Ásia houve um aumento de 8% nas vendas e com a
União Europeia, uma elevação de 15%, graças ao comércio de biodiesel.