O comissário de Comércio da União Europeia (UE), Karel de Gucht,
reclamou hoje que o Brasil, em vez de trabalhar junto com o bloco
contra o protecionismo da Argentina, vem adotando também barreiras ao
comércio global que ele considera questionáveis.
Em palestra sobre as relações UE-Brasil, hoje, na Academia Real de
Bruxelas, de Gucht disse que, apesar de o Brasil estar sendo “duramente
afetado” pelo regime de licenças de importação imposto pela Argentina,
o governo brasileiro não se manifestou publicamente contra a medida.
Reclamou que, em vez disso, o Brasil manteve-se quieto e “adotou
também um numero de politicas questionáveis, como taxação
discriminatória na importação de carros, exigência de conteúdo local em
telecomunicações, e mais procedimentos complicados para importação de
têxteis”.
“O Brasil também começou a levantar a questão de taxa de câmbio na
Organização Mundial do Comércio (OMC). Apoiamos explorar essa questão,
mas esta não é uma desculpa para aumentar tarifas e fechar mercados”’,
acrescentou.
Na visão europeia, o governo brasileiro “deveria estar adotando o
foco oposto – reclamando alto e dando exemplo (contra protecionismo)”.
“Afinal, é onde está seu interesse. Para o Brasil crescer, precisa
de mais integração econômica na região e no mundo em geral”. Para o
comissário, o protecionismo é também um problema para o país. Ele
lembrou que 20% das exportações brasileiras vão para outros países
latino-americanos.
O comissário insistiu em sua palestra na “tendência crescente” de
protecionismo na América Latina e manifestou preocupação
especificamente com expropriações anunciadas na Argentina, e agora na
Bolívia, afetando interesses europeus.
Karel de Gucht diz esperar também que a negociação para o acordo
UE-Mercosul possa ter algum avanço quando o Brasil substituir a
Argentina na presidência rotativa do Mercosul, em julho.
Ele argumentou que um acordo de livre comércio poderia aumentar em 9
bilhões de euros o comércio entre as duas regiões e afirmou que a
negociação não se limita a produtos agrícolas e industriais.
“A realidade é que todos nós queremos produzir e comercializar
produtos e componentes de alto valor agregado”. Em sua longa palestra,
o comissário europeu afirmou ainda que a UE e o Brasil são aliados num
mundo em transformação.